Por: Luis Beltrán Guerra - 06/11/2024
No dia 19 de março de 2021 escrevemos sobre um mundo impregnado de capítulos das mais variadas naturezas e entre eles os relativos a Fidel Castro, o da chamada Revolução Cubana, inclusive descrito como “com faculdades mentais perturbadas”. Na opinião de alguns, “estou vivo e desperto para entender as coisas e agir de acordo”, por isso aproveitou a fuga do ditador Fulgêncio Batista, estimulado pela arrogância popular. E “o homem alto e barbudo” assume o poder absoluto. E até sua morte.
Nos últimos dias e 3 anos e 7 meses depois, tivemos a frutífera oportunidade de participar do Fórum “Consequências da Ocupação da Venezuela por Cuba” promovido pelo Instituto Interamericano para a Democracia, fundado por iniciativa do destacado político boliviano Carlos Sánchez Berzaín , de cujo conselho tenho orgulho de fazer parte. Importantes ainda as apresentações dos venezuelanos Henrique Salas-Romer, candidato presidencial contra Hugo Chávez, este último descrito como “o discípulo mais obediente de F. Castro” e do deputado democrata-cristão Paciano Padrón. Em concordância com Jorge Castañeda, do México e da Universidade de Princeton, Ricardo Israel, do Chile, onde foi candidato presidencial, e a destacada jornalista cubana Ileana Labastida, dedicada diretora do Diario de las Américas. A apresentadora Beatrice Rangel, um misto de consideração, nobreza, coragem e sabedoria. Ministro do segundo governo do presidente Carlos Andrés Pérez, derrubado por um Golpe de Estado “Continuado”, já que o levante militar fortaleceu, através do voto popular, como demonstraram os acontecimentos, a presidência de Hugo Chávez, que assumiu como Fidel, o posto de “Comandante”, convertido em líder civil.
Nesta ocasião, no IID, quem escreveu estas notas não era um “palestrante”, o que nos permitiu ouvir mais de perto as apresentações detalhadas. A convicção dos oradores levou-nos a perguntar se naquela ocasião tínhamos sido humildes na análise a respeito de Fidel Castro. Um sério contraste com as exposições no IID, através das quais se denuncia que “o ditador do Caribe” se propôs a arbitrar “uma estratégia disciplinada” que visa, praticamente, a criação de “uma nova humanidade”, transformando Cuba numa espécie de plataforma para que os governos da Rússia, China, Coreia, Irão e alguns outros minimizem a influência exclusiva dos Estados Unidos nas “Américas”, possuidores de riqueza abundante, especialmente matérias-primas que tanto os Estados Unidos como os Estados Unidos exigem .novos invasores. Hoje questionamo-nos se Castro sequer considerou uma “terceira guerra mundial”. Alguns negam, mas outros afirmam. E não faltam aqueles que pensam que o próximo governo dos EUA, republicano ou democrata, seria obrigado a analisar a situação com mais seriedade do que até agora. Os venezuelanos têm sido os mais exigentes, já que Caracas está incluída na triangulação para a qual trabalhou o tão particular comandante de Cuba. E a crise política que enfrenta após as recentes eleições presidenciais reforçará as suas exigências perante o “Gigante do Norte”.
O Fórum nos levou, sem dúvida, a relembrar as notas do nosso ensaio de 2021, entre elas: 1. A opinião de Carlos Alberto Montaner, para quem Cuba na “era pré-Castro”, o país no 22º lugar em relação a saúde, à frente da Holanda, França, Reino Unido e Finlândia. Na economia, um desenvolvimento respeitável junto com os argentinos, uruguaios, chilenos e venezuelanos. Tudo isto e muito mais foi encerrado pelos “insurgentes”, 2. A inventividade do “Comandante” também foi “sui generis”, pois não tinha qualquer ligação com um processo eleitoral. Foi “uma guerra de guerrilha”, semelhante, pelo menos no seu início, à da Colômbia e que, para sobreviver, acabou, no país sul-americano, por lidar com o tráfico de drogas, 3. A “pasta branca” fez não Aparentemente contaminou “os barbudos” da Sierra Maestra, mas submergiu nela o “governo revolucionário”, pois apoiar um regime político exige muito dinheiro, 4. Para alguns, a ilha imersa na categorização de um “Criminoso de Estado”, de mãos dadas com países de latitudes próximas e distantes, 5. Notamos também que Loris Zanata, professor da Universidade de Bolonha, relata que o Papa Francisco durante a sua visita ao Comandante lhe deu “os sermões e reflexões de Armando Llorente”, tutor jesuíta espanhol na escola onde o guerrilheiro treinou, para que se reconciliasse com o seu passado religioso. A reação atribuída a Fidel “O homem deve ser reprimido para salvá-lo” e 6. O Comandante, para o historiador, acreditava ter recebido “o sopro criativo do “homem novo”, que ao aplicar a “disciplina revolucionária” alcançaria a sociedade sem aulas. E para isso a redenção do povo escolhido pelo “messias, líder e salvador”. Alguém interpretaria, poderíamos afirmar, que dada a reconhecida capacidade do “homem barbudo”, mesmo para passar pelo fundo de uma agulha, Francisco, não esclareceu nem convenceu o Comandante. O oposto é o representante de Deus. Naqueles melhores anos, o “soberbo comandante”, reconheça-se, injectou na multidão a “euforia revolucionária”, bandeira hoje questionável pelos princípios que, na opinião de Salvador Gines, professor de sociologia da Universidade de Barcelona, informam “a constituição moral” nas sociedades contemporâneas.
Fidel viveu entre a ambivalência daqueles que o consideravam um criminoso e outros que, por admiração por ele, queriam conduzi-lo pelo caminho da democracia. Mas sua teimosa convicção acabou privando-o. E talvez, até sua morte. A razão pode ter sido, pode-se perguntar, que a desigualdade social que ele supostamente combateu lhe rendeu seguidores. No próprio Preâmbulo da Constituição de 1919 há definições para tipificar o regime e quem foram Fidel Castro e seu legado, entre outros, "para aqueles que lutaram contra a exploração imposta pelos capitalistas, latifundiários", "para aqueles que difundiram ideias socialistas e eles fundaram os primeiros movimentos revolucionários, marxistas e leninistas”, “pelos quais nos levaram à vitória revolucionária popular de 1959”. Não deve haver ninguém que duvide que este “Preâmbulo” foi escrito pelo “líder barbudo” e dirigido, talvez até pessoalmente, ao constituinte. Mas, também, com a menção “Vá sem alterações”, referindo-se como sabemos à “garantia de autêntica normalidade”. E, claro, ao poder do “homem barbudo”. Hoje e já há algum tempo, como argumenta o escritor chileno Jorge Edwards, Cuba está imersa no desespero em meio à indiferença do resto das nações. E aqueles que apoiaram a revolução olham para outro lado, como se quisessem expressar “Não somos culpados”. “É assim que nos comportamos” nos faz gritar a plenos pulmões. A tentativa de revolução tornou-se uma metodologia, na opinião dos envolvidos no IID, para reavivar estruturas políticas que levariam à criação de um bloco de países liderados por governos atraídos por ideias ultrapassadas. E hoje é o que alimenta os regimes políticos que de uma forma ou de outra detêm o poder e o exercem distanciando-se dos padrões do mundo democrático. É uma mudança radical para a democracia, tipificada como aquele regime político que tem a sua fonte na vontade popular livremente exercida. Condicionados nem relativamente próximos do regime de Havana e daqueles sob cuja metodologia existem hoje. A rota castrista parece faltar muito para uma “nova humanidade”. Também não parece um feito como o da Alemanha nazi que pôs fim à democracia na Alemanha. Sucumbir à vergonhosa criminalidade que a história nos revela. Para alguns, porém, Fidel e Hitler são comparáveis.
Na opinião deste escritor, uma grande verdade não pode ser escondida e é isso que alimenta a luta do povo por menos desigualdades. Hoje o mundo apresenta uma realidade e esta passa por governos seleccionados em círculos limitados, cujos assistentes estão unidos por laços, em alguns casos ideológicos, mas noutros, pessoais e egoístas. Entre eles, os da China e da Rússia e nos quais parece ter se inspirado a Cuba que Castro nos deixou. Pelo menos em relação às eleições de governantes, existem semelhanças. Em competição com os países que abraçaram as democracias, que devem tornar-se eficientes para agarrar a bandeira que começou a pagar a dívida à própria humanidade. É inevitável, pois anda de mãos dadas com a racionalidade do homem.
Viveremos a nova humanidade?
Se Deus assim quiser.
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