Por: Ian Vásquez - 04/07/2023
Colunista convidado.Perdemos Carlos Alberto Montaner, escritor cubano exilado, incansável defensor da liberdade humana, ativista e amigo.
Aos 80 anos, não chegou a ver uma Cuba livre como sonhava, mas não se resignou. "Não importa quanto tempo dure", disse ele em suas memórias, "o que acontece naquele país é um absurdo fadado a desaparecer." Em outra ocasião, ele declarou que "tem sido lindo estar nas trincheiras".
Ele se referia à batalha de ideias no mundo de língua espanhola. Com os pés no chão, visão liberal e facilidade de expressão, influenciou o pensamento de gerações de latino-americanos e espanhóis. Fê-lo através dos seus milhares de artigos de opinião, dezenas de livros, presença nos programas de televisão mais vistos e viagens constantes pelo hemisfério e Espanha, onde viveu durante décadas no exílio.
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Carlos Alberto tinha um apreço especial pelo Peru. Ele disse que quando o Movimiento Libertad liderado por Mario Vargas Llosa surgiu em 1987 para enfrentar a ameaça autoritária do presidente Alan García, "deu vida ao pensamento político liberal latino-americano como nunca antes visto na história política da América Latina".
Ele estava certo. E na medida em que essas ideias foram ganhando força e grande parte da região foi se liberalizando, Carlos Alberto foi se tornando uma referência cada vez mais importante. Conheci-o nos anos 90 e o que mais me impressionou nele foi a sua qualidade de pessoa. Ele era extremamente simpático – modesto, sofisticado e bem-humorado. Concordo plenamente com Andrés Oppenheimer que, além de tudo, o escritor cubano era "uma pessoa muito boa".
Carlos Alberto sempre foi muito generoso comigo. Todas as vezes que o convidei para participar de conferências na América Latina ou nos Estados Unidos, ele aceitou com entusiasmo. Nessas reuniões, ele falou sobre a história, a ética, a filosofia e a situação política da América Latina. Ele costumava enfatizar a importância da liberdade de expressão. Ele disse que "a tolerância é o clima ideal para a aparência da verdade". Ao conhecer Carlos Alberto, ficou evidente que ele encarnava o espírito liberal, ao contrário do que dizia o regime cubano, que o acusava de "terrorista".
A propósito, uma vez que Carlos Alberto participou de um seminário em Lima organizado pelo Cato Institute e Enrique Ghersi, o regime cubano nos deu entretenimento. Ele organizou um protesto público que consistia em cinco indivíduos com uma enorme faixa onde se lia "Carlos Alberto Montaner, assassino".
Na verdade, a única maneira de Carlos Alberto matar era pela lógica e pelo humor. Certa vez, ele escreveu, por exemplo, que "Cuba é o único país do mundo onde é mais fácil mudar de sexo do que de partido político". Quando falavam com ele em conferências, dizia que é sempre perigoso dar microfone a um cubano.
Se você quiser rir, recomendo a leitura de "O Homem que Falava com os Pássaros". Nesse artigo, Carlos Alberto acredita em Nicolás Maduro, que disse que Hugo Chávez, recentemente falecido, apareceu para ele na forma de um pássaro. A comparação que Carlos Alberto faz com um caso real de um louco que falava com pombos acabou "matando" Maduro.
Quando Fidel Castro morreu, escrevi nestas páginas que ele representava o pior da pior tradição centralista da América Latina. Já Carlos Alberto Montaner era outro tipo de cubano. Desconfiava do poder, não acreditava em utopias e era fiel aos seus princípios baseados na dignidade e na liberdade dos indivíduos. Foi um latino-americano exemplar que tive a sorte de ter como amigo. Vou sentir muita falta dele.
As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.