Por: Luis Beltran Guerra G. - 02/06/2023
A América Latina, se falarmos francamente, é vítima de um "tremendo", pelo qual treme de medo, horror e frio. Países que eram prósperos hoje são extremamente pobres.
Os governos emaranhados e nada menos que os legisladores e juízes. Os critérios da "Cúpula de Presidentes do Brasil", convocada por Lula da Silva, que afirmou que "o autoritarismo na Venezuela é uma narrativa construída", para "a mídia" um elogio a Nicolás Maduro, ainda são recentes. A apreciação foi questionada por Gabriel Boric, para quem a violação dos direitos humanos em Caracas é uma realidade. Além disso, conforme relatado pelo jornalista Alberto González, foram feitas menções ao “autoritarismo e antidemocracia”. No mesmo tom do presidente do Chile, o uruguaio Luis Alberto Lacalle Pou se manifestou, qualificando o “regime de Caracas” de ditatorial. São dois jovens chefes de Estado, eleitos pelo povo, cujos países, apesar de seus erros, são governados pela democracia.
No mais, é difícil negar que a política, como se ouve nas próprias vilas, "dá tudo e por tudo", não só em relação às palavras que a definem, mas também no que diz respeito a quem decide conduzi-la. Tornou-se um ofício para o exercício do qual não se exige nem uma profissão nem uma arte definida. "Presença e fala sem medo ou sindérese" parece o fator determinante.
O emaranhado terminológico leva a saltar, sem a menor hesitação, da democracia à ditadura, do comunismo ao socialismo, da esquerda à direita e vice-versa, do Estado interventor ao "mínimo", da economia de mercado à economia intervencionada e da globalização ao regional e local. É um uso indiscriminado de "palavrões", cujo significado quase não foi ouvido, não apenas pelos "pseudo-líderes". Além disso, "o dirigido".
O "coliseu" na América Latina, Ortega e Bukele na Nicarágua e El Salvador, com respeito a quem faz comentários, Fernández e Cristina Kirchner na Argentina, que dão a impressão de que nem se puderam ver, Boric no Chile e Katz em busca de lhe dar um golpe, Peru com Dina Boluarte, vice-presidente do chapéu, um governo atípico e 3 ex-presidentes presos, Equador amarrado com cordas grossas na "morte cruzada" de Laço, Colômbia, com Petro, diante de uma multidão que não quer se ver na mesma crise que afeta o resto do continente, a Bolívia, o chamado Estado Plurinacional, com Lucho Arce, em dupla com David Choquehuanca e sob os anseios de Evo Morales, o Gigante brasileiro com mandato de Lula, quase desconhecido, mal eleito, inclusive,por setores das Forças Armadas dada a proximidade destas com Jair Bolsonaro, Uruguai, com mais sorte que Paraguai e ainda está sob a lupa de onde quer que esteja o Asuntino e autor do clássico "El Supremo", Augusto Roa Bastos, e Venezuela, sob um buquê de dificuldades como nunca antes em sua história.
As particularidades podem ser assim resumidas: 1. O espanto por ter perdido a democracia, 2. Que o golpe de estado tenha reavivado, 3. O entrave ao processo de desenvolvimento, 4. A desintegração humana, tipificada na incompreensão e desvalorização de uns e de outros, 5. Limitações à liberdade e aos direitos humanos, 6. Gestão irracional dos recursos públicos, e 8. Uma acentuada desigualdade social. A homogeneização não importa. Todos queremos governar e poucos desejam ser governados. E como a tampa que faltava na garrafa, uma diabólica coincidência de narcotráfico e corrupção.
Estas circunstâncias devem conduzir a um processo de "redemocratização liberal", que exige a concordância de vontades e porque não dizê-lo, convertendo as mensagens mais pertinentes de Simón Bolívar numa espécie de "Léxico para Legos", entre outras: 1. Se um país é governado por uma única pessoa, sempre será uma ditadura, 2. Em algum momento acabará tendo pouquíssimas liberdades para seus cidadãos, 3. A forma de governar bem é usar homens honestos, mesmo que sejam inimigos, 4. Quando um líder permanece no cargo, mais cedo ou mais tarde cairá nas mãos da corrupção, 5. O sistema de governo perfeito é aquele que produz a maior quantidade possível de felicidade, a maior quantidade de segurança social e a maior quantidade de estabilidade política. Haverá vontade para isso? As dúvidas, poucas.
Se Deus quiser que a oposição em Caracas, hoje abalada, dividida e derrotada, consiga definir seu papel nas proximidades das eleições presidenciais de 2024, já que competirá, seguramente, com o atual presidente do STF, que deve entender alternância democrática, consistente com o “bolivarianismo” que Hugo Chávez, seu mentor, postulou, pelo menos em teoria. Permitam-nos recordar o título “O Povo é Bravo”, de um discurso que no final de 1987 ouvimos no Congresso de Eduardo Fernández, presente na Câmara Carlos Andrés Pérez, candidato à reeleição presidencial, para reiterar que hoje “a bellaquera” está no mais alto grau e que poderíamos enfrentar “uma catástrofe”.
Aspirar ver os que governam hoje como Saddam Hussein pendurado em uma corda, como condição “sine qua non” para o processo de “redemocratização” que deve ser realizado não deixa de constituir uma manifestação da chamada “Lei de Retaliação” , típico de tempos passados. A democracia julga crimes e delitos de acordo com as leis. Caso contrário, é desnaturado. Justiça de transição é a qualificação atribuída à fórmula nos centros de pesquisa política mais adequados. "Os processos de Nuremberg" com o chamado "modelo de Santiago" ajudam a entender a tipologia transicional e a desenhar políticas para torná-la mais eficiente. É assim que se lê.
A volta à democracia na América Latina exige um ativismo sério e isso não passa pela multiplicação de candidatos para substituir aquele que governa de forma antidemocrática. Em vez disso, isso é o mais absurdo e contraproducente. No Chile, onde se iniciou um processo de redemocratização, que ainda continua, como revela uma análise séria, teve que resolver inconveniências, permanências e continuidades do regime de Pinochet, incompatíveis com uma transição democrática, tarefa na qual colocaram suas inestimáveis esforços: Patricio Aylwin, Eduardo Frei-Tagle, Ricardo Lagos e Michele Bachelet. Hoje o Gabriel Boric faz o possível.
Que o presidente do Brasil nos perdoe, mas ele tem que convocar outra cúpula para tirar conclusões sobre a redemocratização do continente, no qual ele governa 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Com todo o respeito, sugerimos o trabalho de J. Samuel Valenzuela, professor de sociologia e PHD da Universidade de Columbia, no qual trata "do retorno à democracia em um país de regime autoritário, tendo anteriormente tido uma longa democracia."
Presidente Lula, "Retificar é sábio."
Comentários são bem-vindos.
As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.