Putin, conservador por dentro, progressista por fora

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 07/07/2024

Colunista convidado.
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O mês do orgulho LGBT acabou. Um movimento que deixou de ser uma exigência de respeito pelos seus direitos para se tornar uma imposição ideológica. Muitas vozes se levantaram contra isso, inclusive a minha. Mas não o fazem por “homofobia” e “intolerância”, mas por causa da manipulação dessas bandeiras pela nova esquerda. Basicamente, tornaram-se o fetiche dos políticos que querem continuar a sugar o peito do Estado e a cortar as liberdades.

Talvez seja por isso que os conservadores nos Estados Unidos e na América Latina acolhem com satisfação o facto de o ditador russo, Vladimir Putin, ser um opositor declarado do movimento arco-íris e do feminismo. Muitos chegaram a considerá-lo uma espécie de campeão contra o progressismo. Porém, como diz o velho ditado: “Nem tudo que reluz é ouro”. Vamos ver.

Putin tem leis rigorosas contra a homossexualidade e o feminismo, por exemplo, o Supremo Tribunal da Rússia declarou o movimento LGBT uma organização terrorista. Além disso, o Ministério da Justiça proibiu qualquer uma das suas atividades. Nada de novo, uma vez que o comunismo foi, é e será o maior inimigo das liberdades individuais e da própria vida.

No entanto, a Internacional Progressista, a CLACSO e a esquerda latino-americana, que actuam como os principais promotores de toda a questão LGBT no Ocidente, são abertamente defensores de Putin, mesmo considerando legítima a invasão da Ucrânia.

Pela sua parte, Putin não tem problemas em consolidar as suas alianças com o progressismo ocidental. Por exemplo, nos últimos meses de 2023, as principais ruas do México foram invadidas pelo verde da RT (Russia Today). Até a emissora estatal de televisão da cidade encheu o transporte público com programação RT. “Enquanto você espera o metrobus, você pode assistir ao noticiário”, disse com alegria a diretora do programa RT em espanhol, Margarita Simonián. Toda esta onda massiva de propaganda foi possível graças ao apoio de Claudia Sheinbaum, presidente eleita do México e membro da Internacional Feminista.

Da mesma forma, a relação entre a ditadura russa e o progressismo latino-americano estende-se às esferas culturais. Neste campo, a CLACSO desempenha um papel fundamental na construção de histórias pró-Kremlin, uma espécie de reaquecimento da Guerra Fria.

Atilio Borón, ex-executivo da CLACSO, é um dos intérpretes das melodias geopolíticas russas na região. Contudo, a instituição que dirigiu é uma das principais criadoras de narrativas pró-LGTB no Ocidente, inclusive utilizando palavras em linguagem inclusiva. Para citar um caso, Saberes LGTBI+, é um documento publicado pela CLACSO em 2019, na sua introdução diz textualmente:

Que futuro existe para os estudos LGBTI+ na América Central? O futuro é brilhante e sempre heterogêneo. Se pensarmos no caminho que percorremos desde a década de 80, onde começamos a ver caminhos, ideias, produções em relação a esses temas, hoje temos muito mais possibilidades. Além disso, existe um diálogo intergeracional que permite o crescimento da investigação. Além disso, uma geração de investigadores jovens e não tão jovens deu continuidade ao legado herdado por outros.

Paradoxalmente, embora a CLACSO fale sobre um futuro brilhante para o movimento LGBT na América Central, eles não têm escrúpulos em apoiar aqueles que condenam esse mesmo grupo na Rússia.

Ignorância? Não. Algo muito pior, uma total falta de escrúpulos, já que a Rússia e os seus aliados sempre tiveram a capacidade de se camuflar em qualquer causa. Podem ir desde atirar em homossexuais, Cuba, o caso mais notório, até desfilar com bandeiras arco-íris. Eles podem deixar de ser ateus e tornar-se defensores do Islão. Ou podem ser como Putin, conservadores por dentro, mas progressistas por fora.


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