Os verdadeiros inimigos de Milei

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 07/02/2024


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O povo argentino decidiu escolher como timoneiro uma pessoa estranha ao sistema político que prevalece há um século. E da mesma forma que o sistema imunitário reage contra a presença de corpos estranhos no corpo, os interesses instalados do sistema pré-capitalista argentino rejeitam a presença do novo líder.

Muitos acreditam que estes interesses acabarão por distorcer o caminho de libertação económica e política proposto pelo Presidente Javier Milei. E as imagens de grupos violentos destruindo as portas do parlamento e do seu entorno parecem dar credibilidade a esta tese. Contudo, considero que é necessário analisar as origens dos protestos argentinos para identificar as frentes inimigas e determinar se elas realmente têm o poder de levar a agenda de Milei ao fracasso. Na minha opinião, só um ator pode atingir esse objetivo.

O primeiro grupo de inimigos é diverso e é formado por todos aqueles que podemos chamar de políticos profissionais. São homens e mulheres que viveram toda a sua vida à custa do erário público e quando o seu subsídio for suspenso reagirão violentamente porque não são pessoas que possam ser recicladas no sector privado da economia. Falta-lhes know-how operacional para executar tarefas, desenvolver projetos ou liderar equipes de produção. Este grupo irá abastecer os exércitos de protestos violentos; a distribuição de calúnias e calúnias nas redes sociais e os danos aos equipamentos públicos. Contudo, é um grupo sem consistência ou capacidade de continuidade. Porque ele vende seus serviços a quem oferece mais e quando o dinheiro desaparece com ele vai o espírito combativo. Isso inclui piqueteros e bravas. E a capacidade de financiar estes grupos pela política tradicional argentina está em declínio vertiginoso.

O segundo é representado por empresários “locais”. São líderes industriais que não têm ideia de como funciona o mundo e não têm muito interesse em aprender porque na Argentina têm uma reserva para enriquecer e prosperar. São aqueles que vêem a concorrência como fonte de destruição e o livre comércio como uma sentença de morte. Este grupo é sólido porque os seus membros partilham interesses, existe coordenação dentro do grupo e o poder político penetrou. Este grupo será o guardião das reformas económicas. Mas pode ser controlada através do apoio às novas gerações de empresários que não só têm um pensamento global, mas cujos empreendimentos foram testados em mercados estrangeiros. Este último seria a força vital da nova economia.

E há ainda os meios de comunicação social cuja atitude face à mudança pode ser letal ou benéfica. Será letal na medida em que a mudança na política económica tenha um impacto negativo. Por conseguinte, quando cada medida é adoptada, é necessário calibrar qual será o seu impacto nos negócios de comunicação social, a fim de estarmos preparados para a sua reacção. E se fosse irracionalmente negativo, teríamos que praticar “balcões” para falar diretamente com quem o elegeu.

No que diz respeito à aliança profana das nações do socialismo do século XXI, contra o regime de Javier Milei, não creio que desempenhem um papel determinante. Em primeiro lugar, porque quando a Venezuela entra em falência, faltam-lhes os recursos para se mobilizarem como fizeram em Novembro de 2005 para vaiar o Presidente George W. Bush no contexto da Cimeira das Américas. Se tiverem capacidade de sincronização com grupos violentos locais e com o crime organizado transnacional. Isto nos leva ao cerne do problema. Porque o crime organizado transnacional tem os recursos para desestabilizar as nações.

O único factor com capacidade para desestabilizar os Estados hoje é o crime organizado transnacional. E este é o verdadeiro nó górdio que deve ser resolvido por Milei. Uma política firme contra o crime, que dê aos argentinos a liberdade de desfrutar dos seus caminhos, visitar os seus parques e tomar um café com os amigos pelas largas avenidas do país, mobilizará toda a cidadania a favor do novo presidente. E na medida em que os equilíbrios económicos sejam recuperados e a situação deixe de ser premente, os cidadãos voltar-se-ão para a liberdade. E como Bolívar disse uma vez “quando um povo decide ser livre, acaba sendo livre”.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.