Oposições na criação e permanência das ditaduras do século XXI nas Américas

Carlos Sánchez Berzaín

Por: Carlos Sánchez Berzaín - 08/01/2023


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O socialismo do século XXI ou castrochavismo conseguiu expandir o modelo da ditadura de Cuba para a Venezuela, Bolívia e Nicarágua, com usurpação indefinida do poder e impunidade, substituindo o “estado de direito” pelo “direito de opressão”. No entanto, com os chamados governos de esquerda, não conseguiu estabelecer ditaduras e a democracia é mantida na maioria dos países. A diferença está na condução das oposições políticas, que no caso das ditaduras fazem parte de sua criação e permanência, e que na democracia impedem a imposição ditatorial.

A formação das ditaduras da Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua começou com a tomada do poder eleitoral com propostas para refundar a democracia e mudar o país, propuseram acabar com o desgastado e corrupto sistema político tradicional e uma longa gama de populistas propostas que poucos anos depois resultaram em miséria, violência e crime organizado. Já no poder, Hugo Chávez na Venezuela, Evo Morales na Bolívia, Rafael Correa no Equador e Daniel Ortega na Nicarágua, implantaram uniformemente “um sistema político contrário aos princípios democráticos e às regras do Estado de Direito”.

O Equador recuperou a democracia graças à visão e liderança do presidente Lenin Moreno, que restaurou os elementos essenciais da democracia, acabando com os presos políticos, perseguições, exílios, torturas, acabando com o narcoestado. Embora os afetados e detratores procurem manipular as causas do processo, diante dos resultados, o Equador é a prova de que é possível sair da ditadura castro-chavista.

As assembléias constituintes têm sido o mecanismo para destruir o sistema democrático e substituí-lo pelo ditatorial na Venezuela, Bolívia e Equador, tendo utilizado reformas e modificações na Nicarágua. Nos países onde as oposições políticas se prestaram a essas manipulações com acordos, submetendo-se e até votando, estabeleceram-se ditaduras. Em todos os casos em que a ditadura se consolidou, houve participação e concordância do regime com a oposição com representação parlamentar ou com parte dela, com vários argumentos e pretextos mas com ditadura como resultado.

Os governos socialistas do século XXI no Uruguai com Mujica, no Paraguai com Lugo, no Brasil com Lula e Rousseff, na Argentina com as esposas Kirchner, no Peru com Castillo, não instauraram ditaduras e entregaram o poder por resultados eleitorais ou pelo processo contra a presidente Dilma Rousseff e a demissão em decorrência do golpe perpetrado por Castillo. Assim caminham os governos de López Obrador no México e de Fernández/Kirchner na Argentina, que, embora se esforcem permanentemente para romper a ordem democrática, são freados pela oposição, pela imprensa livre e pelas instituições democráticas.

Para distinguir entre a oposição real e aquela que se rende à implantação da ditadura para depois se integrar como “oposição funcional”, basta observar o lugar e a condição dos seus dirigentes. Alguns permanecem nos ambientes da ditadura, com espaços de participação e atuação pública com aparência de normalidade, enquanto outros são perseguidos, presos, exilados, agredidos e submetidos a todo tipo de violação de seus direitos humanos e liberdades fundamentais. Isso é comprovado hoje na Venezuela, Nicarágua e Bolívia pelas listas de presos políticos e da burocracia do sistema ditatorial.

Os adversários que entregaram a democracia são aqueles que tentam apresentar as ditaduras da Venezuela, Bolívia e Nicarágua como governos normais, processos revolucionários de mudança ou simples crises. São os opositores funcionais que participam da ditadura eleitoral em que o povo vota mas não elege, mas que legitimam a fraude institucionalizada do regime. São eles que ignoram a tortura, os perseguidos, os presos e os exilados políticos ou se referem a eles como problema de justiça ou abuso policial com os que acobertam a ditadura.

A oposição ditatorial ou funcional é uma simulação em detrimento dos direitos humanos dos povos e também atua na arena internacional, confundindo e desestimulando aliados com propostas múltiplas, diversas e contraditórias, desqualificando lideranças, para destruir a credibilidade e prejudicar a cooperação à verdadeira resistência civil.

A prática mais infame e usual da oposição funcional em uma ditadura é manter e promover a divisão, dividir a oposição e impedir um projeto de unidade -com argumentos ideológicos, programáticos ou pessoais- para que ditaduras do crime organizado com uma média de 80% de repúdio popular continuam a fingir que ganham as eleições.

*Advogado e Cientista Político. Diretor do Instituto Interamericano para a Democracia

Publicado em Infobae.com domingo janeiro 8, 2023



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