MESCP, tomates e czares económicos

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 09/06/2024

Colunista convidado.
Compartilhar:    Share in whatsapp

O romancista húngaro Gyorgy Faludy disse que os 300 mil milhões de pengös que ganhou com a publicação de um romance mal davam para comprar um frango, dois litros de azeite e alguns tomates.

Aconteceu que, naquele ano de 1946, a Hungria, produto da Segunda Guerra Mundial, estava com a sua economia em frangalhos, pois a maior parte dos trilhos e locomotivas foram destruídas, e as que estavam em bom estado foram roubadas pelos soviéticos. Para piorar a situação, a Hungria concordou em pagar reparações de 300 milhões de dólares aos soviéticos, jugoslavos e checoslovacos.

O governo, em vez de deixar funcionar as forças naturais do mercado, decidiu estimular a economia imprimindo dinheiro. O paradoxo era que o dinheiro tinha de ser emprestado para a tinta.

Qual foi o resultado?

A inflação atingiu 41900000000000000%. Deixe-me simplificar: os preços dobravam a cada quinze horas. Obviamente, os salários reais, que reflectem o poder de compra, caíram drasticamente. Embora as pessoas tivessem empregos, eles não valiam nada.

Sobre o que é toda essa história?

Lá, em meados dos anos 2000, um grupo de analistas, entre eles este servidor, usou esse exemplo em um programa de TV para alertar os cidadãos de que o Movimento ao Socialismo estava levando a Bolívia por um caminho muito semelhante aos cenários da Hungria, de Cuba ou dos comunistas. Coréia.

Porém, o mínimo que nos aconteceu foi que nos trataram como “pirralhos pretensiosos”, pois era inconcebível que uns vinte e poucos anos questionassem o Modelo Económico da Comunidade Social Produtiva, que, incluindo a Assembleia Constituinte, estava a ser imposto na Bolívia.

Quase duas décadas se passaram desde aquele episódio, a Bolívia sofre com a escassez de combustível; Os dólares desapareceram, tanto que o próprio regime os procura desesperadamente; os jovens perderam a esperança no seu país; a comida começa a escassear; O nosso comércio internacional é inexistente no mundo e as famílias têm dificuldade em fazer face às despesas. Então, aqui está outra pergunta.

O Modelo Económico Social Comunitário Produtivo (MESCP) falhou?

Depende. Se as suas expectativas eram de que este modelo nos levaria ao caminho do desenvolvimento e da riqueza, foi um fracasso. Contudo, se olharmos para o modelo na perspectiva do sistema ditatorial do Socialismo do Século XXI, foi um sucesso retumbante, uma vez que temos economias miseráveis, uma nação destruída e cidadãos pobres, mas, ao mesmo tempo, ditadores ricos.

Acontece que o MESCP, apesar do rótulo bombástico de marketing, nada mais foi do que a colocação em prática dos preconceitos que muitos pensadores, políticos e pessoas comuns tendem a ter contra a livre iniciativa e o capitalismo.

O seu verdadeiro objectivo era substituir o alegado “caos” e as supostas “imperfeições” do mercado livre pelo “planeamento” central da economia. Obviamente, o planeamento estaria nas mãos de “especialistas” como Arce Catacora e outros economistas, esses czares económicos, nas palavras do grande Ludwig Von Mises.

A sua implementação envolveu a destruição da propriedade privada, por exemplo, os bancos foram forçados a conceder empréstimos a taxas reguladas; gastar as Reservas Internacionais sem qualquer escrúpulo e atacar a reforma dos trabalhadores com mão cheia.

Porém, o pior é que nós, bolivianos, acabamos nos tornando escravos e reféns do sistema, já que algo tão básico como conseguir tomates se tornou, na melhor das hipóteses, um meme e, na pior, um sinal da tragédia que se seguiu.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.