Maria Corina

Francisco Santos

Por: Francisco Santos - 16/01/2025


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Sou um leitor inveterado de biografias e história. Como jornalista e membro de uma família de jornalistas, desde pequeno acompanhei as notícias e os líderes que, para o bem ou para o mal, agiram para criar factos que apareciam nos jornais como notícias. Na minha vida como jornalista, como vice-presidente e como embaixador, conheci muitos líderes bons, regulares e maus, que deixaram vestígios para alguns para o bem, para outros para o mal e para a maioria nenhum vestígio.

De muitos deles só sei o que li ou vi em documentários. Isabel la Católica, a mulher mais importante da história, que unificou a Espanha, descobriu a América e deixou 400 milhões de falantes de espanhol. Margaret Thatcher, que tomou um país em ruínas e o restaurou à sua grandeza. A televisão, os jornais, a rádio –o mundo analógico–, além dos livros, permitiram-me conhecer a sua importância. O mesmo aconteceu comigo com aquele outro grande do século XX, Nelson Mandela, que acabou com o apartheid na prisão e sempre foi um exemplo de bom senso e harmonia. Mahatma Gandhi, de quem li, ouvi e vi tudo o que pude, porque o seu exemplo como líder que alcançou a independência da Índia através do pacifismo fez dele um dos maiores líderes do século XX.

Sim, vivi e senti em primeira mão o imenso carisma de Hugo Chávez, enquanto via como ele destruiu implacavelmente um país muito rico e acabou com a liberdade e a democracia. Tive que ouvir Fidel Castro falar sem parar sobre sua história e suas conquistas, que ao sair do local desabou ao ver a pobreza e a prostituição massiva na ilha. Senti a arrogância de Lula em todas as reuniões que participei, sem falar do seu chanceler na época, Celso Amorim, e claro, no meu país estive muito próximo de quase todos os presidentes desde que me lembro.

Líderes que mostram quem e o que são quando se exercitam. A arrogância incomparável de Gustavo Petro que hoje sofremos. A facada nas costas de Juan Manuel Santos, que com um sorriso te mata sem piedade. A decência de Julio César Turbay e a genialidade e frieza política de Alfonso López. Sem falar de Álvaro Uribe, de quem fui vice-presidente, um líder incrível que transformou a Colômbia em oito anos de governo, e depois de receber um país falido, deixou-o como a joia da coroa, com muito respeito pelas instituições, pela liberdade e democracia. Uma lição que ele me deixou: sempre entregou os sucessos de seu governo a outros, como a Operação Jaque, e sempre assumiu os fracassos como seus, como a fracassada operação de resgate do governador de Antioquia e outros reféns em que quase todos deles morreram.

Trago toda esta história à tona porque no século XXI, através das redes sociais, mas também através dos meios analógicos, dos livros e dos jornais, estamos a vivenciar ao vivo e direto um líder que está, sem dúvida, ao nível dos grandes do mundo. O que María Corina Machado fez na Venezuela, o que liderou contra a ditadura mafiosa, misógina e bárbara de Nicolás Maduro, o que ela representa como mulher e como líder, nunca tinha visto, muito menos experimentado, tamanha proximidade.

Aquela imagem dela sozinha em cima de um veículo, sem escolta, rodeada por milhares de cidadãos que a olham com entusiasmo e esperança, mas ao mesmo tempo perseguida pelos bandidos da máfia de Nicolás Maduro, me fez chorar. Eu estava vendo um acontecimento histórico congelado numa imagem para a história, como a dos soldados americanos colocando a bandeira em Okinawa ou a do homem enfrentando um tanque na Praça Tiananmen.

É muito difícil que neste mundo egoísta possamos viver um momento de tamanha generosidade e abnegação como este. O risco, que mais tarde se concretizou quando foi sequestrada, não lhe importava. Ele só se importou e se preocupa com a liberdade da Venezuela. Foi o que ela disse, sua luta é pelos outros, não por ela mesma e por isso ela não hesita em colocar sua vida em risco. “Hoje os corajosos demonstraram como o medo é superado. “Nunca senti tanto orgulho de ser venezuelana”, disse ela.

Esta imagem, sem dúvida, estará comigo por toda a vida, pois coloca em perspectiva as dificuldades do ser humano e cada um dos nossos problemas. Esta imagem, que já tenho impressa na minha alma, sempre me dará forças para enfrentar os momentos mais difíceis que possa ter daqui para frente. Obrigada, Maria Corina.


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