Por: Hugo Marcelo Balderrama - 06/01/2025
Colunista convidado.Em meados da primeira década do século XXI, pude ler um relatório elaborado por Rolf Linkohr, especialista em assuntos latino-americanos no Parlamento Europeu. A obra contrariava os discursos que, naquela época, os líderes populistas utilizavam para cativar suas nações, por exemplo, a tríade patriótica de empresários, trabalhadores e Estado para desenvolver a Bolívia que Álvaro García Linera disse em 22 de janeiro de 2006. Linkohr considerou que, na realidade, a região estava a entrar numa fase de governos autoritários que não nos permitiria tirar partido dos benefícios da globalização e de um mundo cada vez mais competitivo no meio de uma revolução tecnológica.
Quase duas décadas se passaram desde aquele documento, a realidade nos mostra que, embora machuque a muitos, Linkohr tinha muita razão, porque os pobres foram a única coisa que geramos em mais de duas décadas de hegemonia do socialismo do século XXI. A este respeito, o economista Hermes Pérez, em entrevista ao Diario de las Américas, expressou o seguinte:
A Venezuela tem três vezes mais pessoas pobres do que o Haiti, o país latino-americano que historicamente mais sofreu com crises económicas, políticas e de desigualdade. Na América Latina existem 18,5 milhões de pobres, metade dos pobres de todo o continente estão na Venezuela. Há mais pobres aqui do que no Haiti, uma nação que tem 3,7 milhões de pobres, nós temos 9,3 milhões, triplicamos esse número. Um país que em 1974 tinha a maior renda per capita do planeta.
Caso semelhante aconteceu na Argentina sob a liderança do casal Kirchner Fernández, já que a pobreza atingiu 58% dos argentinos e a inflação anual do ano de 2023 atingiu 211,4%. Sem falar nos índices de criminalidade e no baixo nível educacional das escolas públicas.
Ou seja, o combate à pobreza estava presente, até agora está, nas arengas dos governantes populistas, mas totalmente ausente nas políticas públicas, ou, em todo o caso, lutavam para acabar com a pobreza das suas próprias famílias, como nos mostram os casos de Hugo Chávez, Evo Morales ou Luis Arce Catacora.
Neste cenário de colapso e miséria, em meados da década de 2010, surge um economista excêntrico reclamando, sim, reclamando, contra o sistema e os políticos. Sua figura viralizou nas redes sociais, canais de rádio e televisão. Não faltaram polêmicas devido a alguns equívocos nas palavras de Javier, como aquele notório caso da modelo Sol Pérez. Porém, o homem comum da rua, aquele que tem que se levantar para trabalhar o dobro de horas para ganhar cada vez menos, começou a sentir empatia por Milei. Nicolás Márquez ―em seu livro: Milei: a revolução que eles não esperavam― diz que foram alguns empresários que encorajaram Javier a entrar no mundo sempre sombrio da política partidária. Não deveria haver caso no mundo de tal sucesso, já que só Javier, em três anos, alcançou primeiro uma deputação e depois a presidência da nação.
Javier não mudou nem um pouco de atitude, ele sempre foi honesto. Compare-se a frase do seu primeiro discurso presidencial: “Infelizmente, tenho que repetir: não há dinheiro. A conclusão é que não há alternativa ao ajustamento e não há alternativa ao choque", versus as ofertas inviáveis de saúde e educação gratuitas dos populistas.
Com um ano de governo, com dificuldades no Congresso e tentativas de violência por parte das gangues piqueteras, segundo o último relatório elaborado pela CB Consultora Opinión Pública, o presidente argentino alcançou o primeiro lugar no ranking de imagem positiva entre os presidentes da América do Sul durante o mês de dezembro. .
Na minha humilde opinião há uma variável que explica a imagem positiva da gestão de Milei: a queda da inflação, que até novembro de 2024 havia sido reduzida para baixíssimos 2,4%.
Acontece que, para os assalariados e outros indivíduos com rendimentos fixos, a queda do nível de preços os favorece por dois motivos: 1) o seu salário vale mais em termos reais e 2) os seus níveis de incerteza no futuro são reduzidos, porque sua capacidade de economizar aumenta. Em palavras simples, não preciso mais correr atrás de pão e leite, além de poder guardar um saldo de dinheiro para, por exemplo, eventuais problemas de saúde.
Finalmente, a gestão de Milei é um revés face aos nossos rivais políticos, porque o libertário está a demonstrar que a abertura económica, os impostos baixos, o controlo da inflação e a melhoria da competitividade são favoráveis para a sociedade mais pobre do mundo.
Viva a liberdade!
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