Por: Luis Beltrán Guerra G. - 17/09/2024
O ciclo existencial flui repleto de capítulos de vários tipos, alguns agradáveis e outros nem tanto. Mas também surpreendem aqueles que talvez chamem a atenção, tanto de quem os vivencia em primeira mão como de terceiros.
É assim que o acadêmico Atal Boequer inicia a conferência, escolhida para “Cairá e Veremos” criada na América Latina por seus problemas de governança. Na presidência, Cándida Morales, boliviana, Francisco Vera, do Equador, Julio Restrepo, colombiano, Ricardo Moro, do Brasil, Armida Bello, chilena e Genarina Castillo, de Caracas, presidente e os demais membros do conselho de administração. Boequer nasceu em Nova York, filho de pai indiano (Nova Delhi), onde reside após concluir seus estudos em Oxford. A mãe de Nova York. Ele é um especialista em “ciências e estratégias políticas”, razão pela qual lhe foi confiada a tarefa de esclarecer os latino-americanos sobre o progresso na democracia. Foi exigido que a conferência não se baseasse, como sempre, no facto de que geneticamente não nascemos para a civilidade, pelo que devemos ser governados desviando-nos das regras sob as quais os países democráticos são conduzidos. Atal adverte que os dilemas da humanidade o incomodam, ao que o boliviano Morales exige que seja incomodado, em particular, pelos sul-americanos, já que se afirma que nos limitamos a escrever constituições, mas que ignoraremos os canais para o as pessoas escolham governantes em eleições livres, os bens públicos são bem geridos, as políticas são avançadas em prol da igualdade, os ricos não exploram a classe média e os pobres, as limitações não são geradas em reivindicações legítimas, não há discriminação e um longo etc., cuja numeração até hoje quase esgotou a tinta para imprimir as leis. É assim que somos descritos, Professor Boequer, em nações que alcançaram, como deve saber, regimes democráticos estáveis.
O professor quer continuar, mas é interrompido por Genarina Castillo, que o incita a comentar a crise na Venezuela, onde acabam de ser realizadas eleições presidenciais com resultado favorável ao candidato da oposição e que isso é desconhecido. Deixe-me perguntar-lhe se este acontecimento não altera o seu espírito como especialista em questões políticas. Sinto-me responsável, pois fui eu quem o indicou como orador. Uma população maioritária nas ruas arrisca as suas vidas, exigindo que a Carta Magna seja observada. O acadêmico ainda está triste com a avaliação.
Continua, no entanto, dada a sua comprovada experiência, expondo o livro “El Sari Rojo”, de Javier Moro. Devo dizer-lhe, diz o académico no “ambon” de onde fala, que leu e releu este excelente trabalho, cujas páginas me levaram a intitular a nossa dissertação: Índia nas Caraíbas ou Caraíbas na Índia? E com o saudável desejo de nos aprofundarmos na sua natureza, como incógnita, e “na proporção” da comparação dos cenários. O público é percebido com inegável interesse pelo discurso de Boequer. Mas, muito mais, quando o último não exclui que concluamos em vez de “Índia nas Caraíbas” em vez de “As Caraíbas na Índia”. Possibilidade que corrobora a adequação do título da conferência.
A prosa de Javier Moro, com efeito, salienta o orador, leva-nos pela mão ao que é conhecido como “a sexta parte do universo”. Deixe-me ler para você que “em 1965, Sonia Maino, uma estudante italiana, conheceu Rajiv Gandhi em Cambridge. Ela é filha de uma família humilde, a linhagem mais poderosa da Índia. Por amor, a italiana abandona o seu mundo para se fundir com a prodigiosa Índia, que venera 20 milhões de divindades, fala 800 línguas e vota em 500 partidos políticos. Sua dedicação acabará fazendo dela “uma deusa” aos olhos de um sexto da humanidade.” Por favor, leia as 557 páginas do livro com atenção. É assim que compreendem a utilidade determinante “da inconstância ou alternativa de acontecimentos prósperos e adversos na política. Se abraçássemos a sinceridade, o que, aliás, é difícil face ao “benefício egoísta do poder”, cujas manifestações eu não gostaria de ser assumido. Expressão irônica expressa entre os lábios, o equatoriano Francisco Vera. Não se limite, acrescenta Boequer, por favor, apenas à nossa dissertação. Devem meditar com cuidado e sem desperdícios sobre “O Sari Vermelho”, cuja ideia central está condensada na frase “Quando a vida é o preço do poder”, aterrorizante, sem dúvida. É o favor mais sincero que vocês podem fazer aos seus países e a si mesmos. Essa frase delineia o desafio que devem levar em suas almas e colocá-las à disposição de suas pátrias sofredoras.
Os que se dedicam ao ensino utilizam a “pílula”, uma mistura de um medicamento com um excipiente adequado para que tanto o professor quanto o aluno o engulam como um paciente doente, sendo uma ajuda para ambos. Portanto, a frase histórica deve ser a sua “fraude” que deve ser depositada em seus cérebros. Mas também devem ter em conta que Javier Moro nos leva pela mão à saga familiar dos Nehru-Gandhi, homens e mulheres presos nas guerras de poder, prisioneiros de um destino que não escolheram, o mesmo que conduzirá a Sonia para encarnar as esperanças de 1,2 mil milhões de pessoas no país de Mahatma Gandhi, para quem “A não-violência e a verdade são inseparáveis”, bem como “Oponho-me à violência porque quando parece causar o bem, é apenas temporário. O mal que ele carrega é permanente. Esta é, queridos amigos, uma segunda pílula! O filósofo deixou, sem dúvida, um legado à liderança que “Sonia Maino” viveu. A italiana, como é chamada depreciativamente no mundo partidário, apesar dos aborrecimentos dos filhos Rahul e Priyanka, algum tempo depois de recusar, ingressou na política, militando, como a sogra e o marido, no “Congresso Nacional Indiano”. partido”, que alcança uma votação imensa, nunca antes vista, estatuto que a legitima a aspirar ao cargo de “Primeira-Ministra”, o mesmo ocupado por Indira Gandi e Rajiv. Atal Boequer está satisfeito com o andamento de sua conferência.
Sónia Maino, no entanto, prossegue o orador, não aceita, apesar da sua vitória eleitoral decisiva, a oferta que o Partido lhe faz, como já tinha feito anteriormente, argumentando que decidiu não saber mais de política. Porém, 6 anos depois ingressou na CNI, passando a presidi-la durante quase duas décadas, período que aproveitou para definir mais claramente os princípios do “centro-esquerda”, a ideologia do Partido. Apesar disso, Atal avisa que Sónia parece ter aprendido que “a política muda entre a certeza e o contrário”, o que não posso deixar de alertar, pois pude confirmar que todos foram picados, como ela, o que ironicamente. chamamos de “o verme político”. Atal ri ao perceber que os 6 integrantes do “Amanecerá y veremos” não conseguem esconder a afirmação. Boequer não se surpreende que Cándida Morales, da Bolívia, tenha colocado um cartaz em frente ao seu assento com uma foto de cabeça baixa de Evo Morales. O orador sente que Cándida enfrenta uma situação angustiante, relativamente à qual as possibilidades de melhoria parecem muito remotas para nos levantar o ânimo e lembra que nunca devemos pensar que tudo está perdido.” Do lado direito da placa, “O Pavilhão da Bolívia”, com suas listras vermelhas, amarelas e verdes. E à esquerda “O Escudo”, emblema e símbolo nacional desta República desde 1825. Francisco Vera, do Equador, exige da academia considerações objetivas sobre “a pessoa que usa o engano e até a violência em benefício de seu próprio interesse e de aqueles que o acompanham na escaramuça detestável.” A chilena Armida Bello acrescenta a esta avaliação, perguntando ao orador se esta é a causa das condições críticas dos regimes políticos. Atal sente que sua tarefa deve ser levada ainda mais a sério, o que é corroborado ao ouvir que o brasileiro Ricardo Moro, em perfeito espanhol, argumenta que suas considerações sobre se esta anomalia esteve presente na política da América Latina e se foi ou não uma causa determinante para não termos alcançado democracias eficientes. Mas, também, a mesma coisa aconteceu na segunda pátria de Sonia Gandhi. Vários participantes aplaudem Moro.
A reação de Boequer é censurar o que aconteceu na Venezuela, expressando que é a favor de comparar Sonia Maino com María Corina Machado, dada a coragem de ambas e a sua vocação para estabelecer um regime político sério, eficiente e democrático. Mas devo reafirmar que os países, perante acontecimentos como o de Caracas, exigem continuar na luta interna e não delegar as alternativas possíveis a outras nações, chamadas a enfrentar as suas próprias dificuldades, que são numerosas. E no que diz respeito à comunidade internacional, as intervenções no interesse da democracia permaneceram na florescente literatura que adorna tratados, convenções e conferências, fontes do chamado “direito internacional”. Em muitos casos, as pessoas oprimidas pelas ditaduras acabam até por ansiar por “ações militares”, como a dos Estados Unidos no Panamá (1989), que declarou guerra ao gigante Norte, sob a presidência de George H. Bush. chamada “Justa Causa” para prender Noriega, condenado por juízes americanos e europeus, até morrer numa prisão francesa. Em alguns países, como a história revela, foram as suas próprias forças armadas que vieram em socorro da civilidade democrática. Em outros, infelizmente, para governarem a si mesmos.
Além disso, acrescenta o professor, é preciso ter em mente a dualidade entre as obrigações em sentido estrito, estabelecidas pelas leis dos próprios países, e as de natureza moral. Existe uma diatribe relativa à força jurídica dos preceitos internacionais, por um lado os tribunais de certos países colocam-nos abaixo das normas constitucionais, outros, como intermediários entre a constituição e as leis e em Espanha, por exemplo, os tratados estão sujeitos ao controlo do Tribunal Constitucional, a fim de determinar os critérios relevantes para a sua observação. “A abordagem internacional é difícil” é ouvido em inglês perfeito do Professor Boequer. Portanto, a luta tem de ser apenas dentro da Venezuela, propõe veementemente Genarina Castillo. Atal responde simplesmente “os dois”, mas frisando que o primeiro será sempre decisivo.
Tenho que terminar, ouve o acadêmico, relativamente cansado. Mas primeiro deixe-me explicar o significado de ter intitulado esta dissertação: Índia no Caribe ou vice-versa? Mas é interrompido pelo colombiano Julio Restrepo, que expressa que não basta ser muito inteligente para entendê-lo. Sonia Gandhi vence por esmagadora maioria as eleições na Índia, mas não aceita ser Primeira-Ministra, chegando mesmo a propor a pessoa que assumirá o cargo. Na Venezuela, ao eleito, pelo contrário, é negado o acesso à Presidência da República, que obteve legitimamente. Uma “antinomia constitucional”, pressuposto que as fontes definem como “uma situação em que certos preceitos (no caso venezuelano, os relativos às eleições presidenciais) são aplicados à força a pressupostos que não aconteceram”.
Então, vai amanhecer e veremos?, afirma a chilena Armida Bello. Boequer simplesmente se despede.
Os participantes são percebidos como desapontados. Mas também aos promotores da dissertação.
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