Por: Beatrice E. Rangel - 27/11/2024
De 19 a 20 de novembro, o Grupo dos 20 se reuniu no Brasil, que na verdade conta com 19 integrantes. O G20 foi criado em 1999 em resposta a diversas crises económicas globais. Os membros do G20 representam 85% do PIB global, 75% do comércio internacional e 56% da população mundial. Os principais objectivos do G20 incluem: estabilidade financeira internacional, mitigação das alterações climáticas e desenvolvimento sustentável.
No contexto dessa reunião, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Da Silva, propôs a criação de um fundo global com contribuições dos membros do grupo cujo objetivo seria aliviar a pobreza extrema. A proposta foi rejeitada pela Argentina, bloqueando assim o consenso necessário para o projeto decolar.
A posição argentina tem sido muito criticada na mídia especializada em temas econômicos. Contudo, nenhum dos críticos estudou minuciosamente a proposta ou as fontes da rejeição da Argentina. Se o fizessem, chegariam à conclusão de que a proposta não faz sentido e que a rejeição da Argentina não só é apropriada como também estabelece um limite ao desenvolvimento desordenado de um dos mais eficientes mecanismos de coordenação internacional.
Porque o objectivo do G20 é evitar o contágio dos desequilíbrios económicos ou financeiros de um país para o resto da economia mundial. É também seu papel harmonizar as políticas fiscais e comerciais para impedir o desenvolvimento de paraísos fiscais e evitar guerras comerciais.
A luta contra a pobreza, porém, não pertence à dimensão internacional. Muito pelo contrário, é uma tarefa de estrita ordem interna que pode ser facilitada ou dificultada pela ação de outros países, mas nunca promovida por eles. Porque, em última análise, a luta contra a pobreza é uma luta pela liberdade de cada indivíduo. A pobreza anda de mãos dadas com a servidão, seja ela económica, institucional ou cultural. Porque quando um ser humano é livre - a menos que seja psicopata, o que existe - sua missão na vida é alcançar o bem-estar pessoal e de sua família.
E nessa busca pelo bem-estar ele eleva as condições de vida daqueles que o rodeiam. Obviamente, além de ser livre, é preciso ser educado e saudável. Mas para além destas exigências de serviços, os seres humanos livres criam bem-estar. Portanto, o mais significativo é o esforço feito por uma sociedade como um todo para garantir a liberdade dos seus membros e a educação e a saúde de todos.
A criação de um fundo internacional de combate à pobreza não faz portanto o menor sentido e o que seria importante seria que o G20 estabelecesse um catálogo de políticas públicas sob as quais floresça a liberdade e consequentemente a criação de riqueza, que é a fórmula mais eficaz na erradicação da pobreza. A criação de um tal fundo apenas prejudicaria a missão do G20, mas o levaria a sofrer o princípio de Peter. Isto emularia o caminho degenerativo das Nações Unidas, uma organização criada para prevenir conflitos, agregar interesses e garantir a paz. Mas o número de tarefas impostas às Nações Unidas que não têm qualquer relação com a sua missão levou a organização a um rápido processo degenerativo.
O não da Argentina à proposta de Lula é o início da reversão do processo de enfraquecimento por embolia funcional do G20.
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