Por: Hugo Marcelo Balderrama - 09/03/2025
Colunista convidado.Em 2011, Hugo Chávez fundou a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). A organização foi criada para substituir a Organização dos Estados Americanos (OEA). Inicialmente, como sinal de sua aliança com regimes autoritários extrarregionais, China e Rússia desfrutaram do status de observadores.
Obviamente, eles usaram essa condição para impulsionar sua agenda anti-norte-americana e antiocidental. Por exemplo, entre 2017 e 2019, a República Popular da China usou a CELAC como o principal fórum para pressionar El Salvador, Panamá e República Dominicana a romper relações com Taiwan e reconhecer Pequim. A Rússia também usou sua influência para estabelecer sua narrativa em relação à Ucrânia, com o Ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov até mesmo afirmando que a América Latina e a Rússia têm agendas comuns.
No entanto, as alianças entre a China e os governos autoritários da região não nasceram com a CELAC, mas têm sua gênese no Foro de São Paulo de 1990, algo que a própria Shen Beili, vice-ministra do PCC, reconheceu em 2022. Com todo esse pano de fundo, fica mais do que claro que a esquerda regional, especialmente durante a década de 1990, operou à sombra do Dragão Vermelho. Não deveria ser surpresa encontrar influência maoísta tanto na forma de chegar ao poder, em golpes de estado como o da Bolívia em 2003, quanto na forma de combater dissidentes e até mesmo tentar varrer a cultura judaico-cristã, especificamente os valores do cristianismo, como no caso da lei educacional na Bolívia.
A teocracia islâmica do Irã é outro ator influente na região. De fato, o ditador venezuelano Nicolás Maduro tem se gabado repetidamente de seus acordos militares com o Irã, chegando a chamá-lo de "nação irmã".
Na Bolívia, como demonstração de soft power, o Irã conseguiu mudar a doutrina de treinamento das Forças Armadas e, ao mesmo tempo, estabelecer centros de treinamento para civis em Chapare, quartel-general de Evo e seus narcotraficantes cultivadores de coca. Isso nos leva a outro ator com grande peso político: o crime transnacional.
A aliança do Foro de São Paulo com o crime se evidencia em três cenários, vejamos:
Em 2003, após o golpe de estado na Bolívia, Carlos Mesa assinou decretos de anistia para todos os manifestantes e terroristas que violaram a ordem constitucional. Quase em paralelo, iniciou processos de responsabilidade contra o alto comando militar e contra o corpo ministerial do governo deposto, entre eles, Mirtha Quevedo e Carlos Sánchez Berzaín. Observe o paradoxo: aqueles que atacaram a paz, a liberdade e a democracia ficaram livres de culpa, mas aqueles que defenderam o país foram transformados em vilões.
Rafael Correa, ao dar-lhes status legal, tratou os membros da gangue Latin Kings como crianças inofensivas: "Eles me lembram escoteiros", foram suas palavras. Esses grupos criminosos se tornaram uma parte importante da guerra híbrida que o Socialismo do Século XXI trava contra o Equador e a presidência de Daniel Noboa.
Em 31 de janeiro de 2015, Bachelet modificou a Lei de Controle de Armas no Chile. O espírito da legislação era reforçar os requisitos para a compra e posse de armas legais para civis e proibir o uso de armas automáticas por policiais. Uma década após a promulgação desta lei, os resultados foram civis indefesos, policiais enfrentando traficantes de drogas em total desvantagem e o crescimento acelerado do Trem de Aragua no norte do Chile.
Observe a estratégia: primeiro o criminoso se torna vítima da sociedade. Ou seja, um criminoso que agride um transeunte está, na verdade, se defendendo de um sistema social "maligno" que o exclui. Segundo, cidadãos decentes estão completamente desarmados. Por fim, a institucionalidade da polícia é destruída, forçando os policiais a assistirem de fora qualquer crime, mesmo dentro de sua própria instituição.
Concluindo, cidadãos decentes da América Latina terão que enfrentar não apenas grupos criminosos transnacionais violentos e bem armados, que ambicionam consolidar sua impunidade. Eles também terão que enfrentar um grupo de Estados cúmplices que promoveram esse modelo criminoso, com uma visão clara e unificada de tomada e manutenção do poder, como já está acontecendo na Venezuela, Nicarágua, El Salvador e Bolívia.
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